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"A manobra de Heimlich é uma das mais úteis para médicos dentistas"

Dentistry, outubro de 2014

Uma simples manobra de reanimação pode significar a diferença entre a vida e a morte. Durante uma consulta de medicina dentária existem riscos, mais ou menos específicos, que exigem de todos os profissionais de saúde envolvidos formação adequada para agir atempadamente. Com o objetivo de esclarecer melhor um assunto que é de vital importância, entrevistámos Rui Vieira, enfermeiro do INEM que é também instrutor de Suporte Básico de Vida do Conselho Português de Ressuscitação

Com mais de oito mil horas de formação ministrada, divididas por mais de 300 cursos de socorrismo, o enfermeiro Rui Vieira é um dos profissionais mais habilitados a informar sobre as necessidades e as especificidades das manobras de primeiros socorros, contando ainda com experiência no que diz respeito a formações realizadas junto de médicos dentistas e profissionais da saúde oral. Além de enfermeiro de Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), desde 1998, é ainda instrutor de Suporte Básico de Vida (SBV) do Conselho Português de Ressuscitação (CPR), da American Heart Association (AHA) e do Centro Hospitalar do Porto (CHP).

O JornalDentistry - O INEM é a entidade responsável pela homologação de formação em primeiros socorros. No entanto, o Conselho Português de Ressuscitação é responsável pela acreditação de formação em reanimação, de acordo com o que pode ler-se no artigo da MedSUPPORT, publicado na nossa edição de junho (Nº 8). Existem diferenças entre reanimação e primeiros socorros?

Rui Vieira – Sim, os primeiros socorros são um conjunto de temas que visam preparar o formando para um vasto leque de situações que podem colocar a vida da pessoa em causa, incluindo obviamente o módulo de Suporte Básico de Vida (SBV). O curso de socorrismo, recomendado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), contém os temas considerados relevantes. O INEM certifica esta formação, assim como outras entidades. A Cruz Vermelha, a título de exemplo, certifica um curso denominado Curso Europeu de Socorrismo, que é um curso da própria Cruz Vermelha. Porém, em Portugal, o curso deve respeitar as recomendações da DGS.

O curso do INEM tem que respeitar obrigatoriamente as normas do Conselho Português de Ressuscitação (CPR) pois, caso não o faça, o CPR pode retirar ao INEM o estatuto de centro de treino certificado em SBV. Logo, um curso de SBV é uma coisa e um curso de socorrismo é outra. Se um grupo de formandos fizer um curso de SBV e depois for fazer um curso de socorrismo, a carga horária pode ser diminuída, pois o módulo de SBV já está efetuado.

E o que contempla a designação “Suporte Básico de Vida”: primeiros socorros, reanimação ou ambos?

SBV designa um conjunto de técnicas que se utilizam na vítima em paragem cardio-respiratória, em situação de paragem respiratória, em obstrução da via aérea e em estado de inconsciência. Obviamente, são em primeiro lugar um conjunto de técnicas de reanimação que, por sua vez, estão incluídas no módulo de SBV, módulo este que é parte integrante de um curso de socorrismo.

Como estão organizados estes cursos?

A formação em SBV deve seguir sempre o método dos quatro passos e, de uma forma geral, toda a formação de socorrismo deve ser assim ministrada. Estas formações são executadas com bastante componente prática e com casos clínicos fictícios, para ajudar os formandos a perceberem o que têm que fazer, porque é que o fazem e como o devem fazer.

Que manobras em concreto são ministradas num curso de primeiros de SBV?

Num curso de SBV são ensinadas compressões torácicas, palmadas interescapulares, compressões abdominais, ventilação boca-a-boca e boca-máscara, e posição lateral de segurança. Num curso de socorrismo, além destas técnicas, é ensinado como fazer ligaduras, lavar feridas, fazer pensos e pensos às extremidades, elaborar uma mala de socorrismo, fazer talas, estancar hemorragias (compressão direta e indireta), o rolamento e o levantamento em bloco de vítimas.

Quais as maiores preocupações dos médicos dentistas nesta matéria?

As situações relacionadas com doenças súbitas e as que dizem respeito a objetos que possam ser aspirados para a via aérea. A manobra de Heimlich é uma das que é contemplada na formação, por ser muito útil.

Sente que deveria haver uma formação mais intensiva em primeiros socorros no meio académico, uma vez que esta é uma matéria que implica atualização permanente?

Este tipo de cursos deveria ser ministrado ao longo de toda a vida escolar e académica.

Com que frequência é revisto o algoritmo de atuação do SBV? Houve alguma revisão recentemente ou haverá em breve?

As revisões são de cinco em cinco anos: 2005, 2010 e 2015. Tem de ser obrigatoriamente adaptado à realidade dos formandos para que eles possam interiorizar o conteúdo.

Com que frequência deve um profissional (médico dentista, assistente dentária, higienista e/ou até administrativa de uma clínica dentária) realizar formação em SBV e qual a duração das formações?

Uma frequência de dois em dois anos, com a duração de quatro horas – foi esta a periodicidade, aliada à necessidade de adaptação da formação à medicina dentária, que nos impeliu a estabelecer uma parceria com a MedSUPPORT.

Qual a percentagem de sobrevivência de uma pessoa que é alvo de manobras de primeiros socorros?

Das técnicas de SBV, tudo depende da rapidez com que são iniciadas. A realização de SBV é vital até à chegada das equipas de emergência. Uma rápida atuação das técnicas de SBV e de desfibrilhação (um a dois minutos) podem resultar em mais de 60 por cento de casos de sobrevivência.

Qual a perceção errónea mais comum, no que diz respeito ao SBV, que sinta necessidade de desmistificar? Os formandos têm medo de partir costelas e acham que, se as costelas partirem, não devem fazer compressões, pois acreditam que podem perfurar um pulmão.